segunda-feira, 21 de março de 2011

Cidade de Porto Alegre

História de Porto Alegre

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Herrmann Wendroth: Vista de Porto Alegre a partir das ilhas do Guaíba, c. 1852
A história de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, no Brasil, inicia oficialmente em 26 de março de 1772,[1] quando o povoado primitivo foi elevado à condição de freguesia, mas na verdade suas origens são mais antigas, tendo nascido em função da colonização da área por estancieiros portugueses desde o século XVII. A região, contudo, foi habitada pelo homem desde 11 mil anos atrás. Ao longo do século XIX iniciou seu crescimento, tendo os portugueses contado com o auxílio de muitos imigrantes europeus de várias origens, mais os escravos africanos e porções de hispânicos do Prata. Entrando no século XX sua expansão adquiriu um ritmo muito acelerado, num processo que consolidou sua primazia entre todas as cidades do Rio Grande do Sul, e a projetou no cenário nacional. Então se definiram seus traços mais característicos, apenas esboçados no século anterior, muitos dos quais permanecem visíveis até hoje mormente no seu centro histórico. Ao longo de todo o século XX a cidade se empenhou em ampliar organizadamente sua malha urbana e provê-la dos necessários serviços, obtendo significativo sucesso mas enfrentando também várias dificuldades, ao mesmo tempo em que desenvolvia expressiva cultura própria, que chegou em alguns momentos a influir em todo o Brasil em vários campos, desde a política até as artes plásticas.[2][3] Hoje Porto Alegre é uma das maiores capitais do Brasil, e uma das mais ricas e de melhor qualidade de vida,[4] tendo inclusive recebido várias distinções internacionais.[1] Abriga muitos eventos importantes e tem sido apontada várias vezes como um modelo de administração para outras grandes cidades.[5]

Índice

[esconder]

[editar] Início da colonização

Índio Charrua, pintado por Debret no século XIX
Por ocasião do Descobrimento a região onde se ergue Porto Alegre era habitada pelos grupos indígenas Guaranis, Charruas, Minuanos e Tapes. Com o estabelecimento do Tratado de Tordesilhas em 1494, e com a posterior descoberta do Brasil em 1500, cujo território ficava dividido pela linha demarcada pelo Tratado, a região sob domínio português terminava na altura de Laguna, em Santa Catarina, ficando o Rio Grande do Sul sob domínio espanhol.[2]
Contudo, com a União Ibérica, entre 1580 a 1640, estes limites tornaram-se relativamente inócuos. Havendo pouco interesse da metrópole por estas terras, diversos desbravadores portugueses começaram a se estabelecer espontaneamente perto do litoral, e quando Portugal recobrou sua independência, em 1640, já havia muitas estâncias na região, especialmente ao norte da Lagoa dos Patos e junto à desembocadura do rio Jacuí. Em 1680 os portugueses fundaram no Uruguai a Colônia do Sacramento, hoje cidade de Colônia, e o litoral riograndense passou a ser percorrido intensamente por eles como caminho para abastecimento da colônia e como forma de garantir a posse do território.[3]
Em 1732 Manoel Gonçalves Ribeiro, natural de Laguna, recebeu uma sesmaria na área conhecida como Campos de Viamão, onde se iniciou a formação de um povoado, a Capela Grande do Viamão, que seria a segunda capital do estado. Outros colonizadores que receberam terras na região foram Sebastião Francisco Chaves, Dionisyo Rodrigues Mendes e sobretudo Jerônimo de Ornellas, concessionário da sesmaria mais importante, a de Sant'Anna, localizada sobre o morro de mesmo nome, em um lote que já ocupava desde 1732, tendo instalado ali uma estância para criação de gado e sua residência. Junto à antiga desembocadura do arroio Dilúvio já existia um ancoradouro, o Porto do Viamão, que se tornou também conhecido como Porto do Dornelles, uma corruptela de "Ornellas".[3]
Em 1742 o rei de Portugal, atendendo a solicitação do brigadeiro José da Silva Paes, publicou um edital autorizando a emigração de açorianos para o sul do Brasil, que de início deveriam se fixar na região de Santa Catarina. Em 7 de dezembro de 1744, Jerônimo de Ornellas recebeu, por Carta Régia, a confirmação de posse das terras já ocupadas, e intensificou sua criação de gado. Com a sede instalada no Morro Sant'Anna, o restante de sua propriedade era apenas campo desabitado, com a exceção de algumas famílias arranchadas à beira do lago, na ponta da península, onde hoje é o centro histórico de Porto Alegre. Ali ergueram uma diminuta capela, consagrada a São Francisco das Chagas, elevada a curato em 1747.[3]
Em 1750, após a assinatura do Tratado de Madrid, ordenou-se ao governador de Santa Catarina, Manoel Escudeiro de Souza, que enviasse ao Porto do Viamão uma leva dos casais que estavam para chegar dos Açores. Em 1751 foram selecionadas 60 famílias, perfazendo um total de cerca de 300 pessoas, que chegaram ao local em janeiro de 1752, sendo encaminhadas a terras já demarcadas no Morro Sant'Anna. Mas o local era pobre em fontes de água e foi abandonado, tendo a população se fixado junto do porto, que por esta razão passou a ser conhecido como Porto dos Casais. Em 1752 chegou nova leva de açorianos, que se juntaram a cerca de 60 milicianos do destacamento do Coronel Cristóvão Pereira de Abreu, para cá enviados a fim de dar proteção e assistência aos habitantes. Junto com a tropa veio o primeiro religioso, um capelão militar Carmelita, Frei Faustino Antônio de Santo Alberto. Ainda em 1752, Jerônimo de Ornellas, sentindo-se prejudicado com a ocupação, pelos açorianos, da ponta da península, vendeu as suas terras a Ignácio Francisco, embora na Carta de Confirmação de sua sesmaria constasse a obrigação de deixar meia légua a partir do lago em direção ao interior como área de uso público. A área foi então desapropriada e disponibilizada legalmente para os colonos já assentados, mas a partilha e entrega efetiva dos lotes rurais individuais só aconteceria em 1772. O primeiro logradouro construído foi o cemitério, na beira do Guaíba e nas proximidades da Praça da Harmonia que, em seguida, foi transferido para o Morro da Praia, atual Praça da Matriz.[3]
A antiga Matriz e o Palácio do Governador, os dois primeiros edifícios importantes da cidade, erguidos a partir da década de 1770. Aquarela de Herrmann Wendroth, c. 1851

[editar] Criação da freguesia

Com a queda, em 1763, da então capital da província, a vila de Rio Grande, nas mãos dos espanhóis, a capital foi transferida para Viamão, e grande parte da população de Rio Grande refugiou-se no Porto dos Casais, estendendo a área habitada. Esse povoado primitivo foi elevado a freguesia em 26 de março de 1772, data oficial de fundação da atual capital dos gaúchos, sob o nome de Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, pois a primeira capela da cidade foi dedicada a São Francisco das Chagas. Ainda em 1772 os colonos receberam os títulos de posse de seus lotes e foi separado um quadrilátero de cerca de 141 ha para a formação do núcleo urbano, ocupando toda a área da península. Seu traçado inicial foi feito pelo cartógrafo Capitão Alexandre José Montanha, na região desapropriada da Sesmaria de Sant'Anna, mas os originais deste traçado nunca foram encontrados. Acompanhando o crescimento da população e em reconhecimento da importância estratégica do porto, o governador Marcelino de Figueiredo transferiu novamente a capital em 1773, que passou de Viamão para Porto Alegre, mas tendo sido mudado seu orago, seu nome passou para Freguesia da Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre.[3]
Então inicia a reorganização da urbe como a capital da Província. Em 1774 são construídos o Arsenal de Guerra, a primeira Igreja Matriz e o Palácio do Governador, quatro anos depois são levantadas fortificações no perímetro oposto ao lago. Nas duas décadas seguintes já havia diversas olarias em atividade, indicando uma crescente demanda por materiais de construção como telhas, pisos e tijolos, estaleiros já construíam navios sob encomenda para o Rio de Janeiro, o comércio em geral se estruturava, e os vereadores se preocupavam com o embelezamento e limpeza das ruas e logradouros. Também começavam a tomar forma alguma das praças mais antigas de Porto Alegre, como a Praça XV, a Praça da Matriz e a Praça da Alfândega, que ainda existem. No terreno cultural, em 1794 se instalava a primeira Casa de Ópera, ainda que fosse apenas um barracão rudimentar de madeira, no Beco dos Ferreiros. Nas cercanias, os colonos se aplicavam na agricultura e criações várias para mantimento dos cidadãos, com primazia para a produção de trigo e farinha. A importância desta atividade se revela em que um dos mais importantes moleiros da época, Francisco Antônio da Silveira, o Chico da Azenha, acabou emprestando o seu apelido a todo um bairro, Azenha. Outros moinhos marcaram a memória dos porto-alegrenses, havendo atualmente um bairro chamado Moinhos de Vento. Também as charqueadas se instalaram na periferia cidade, atraídas pelo crescimento urbano. Com a proliferação dessas pequenas indústrias em seu entorno se agregaram habitações, que iriam constituir as origens de alguns dos bairros um pouco mais afastados do centro, como o Cristal e a Tristeza. No final do século XVIII Porto Alegre contava com quase 4 mil habitantes.[3]

[editar] Século XIX

O alvará de 27 de agosto de 1808 e a Resolução Régia de 7 de outubro de 1809 elevaram a freguesia à categoria de vila, verificando-se a instalação a 11 de dezembro de 1810. Através de alvará de 16 de dezembro de 1812 Porto Alegre tornou-se sede da Capitania de São Pedro do Rio Grande, recém criada, e cabeça da comarca de São Pedro do Rio Grande e Santa Catarina. Em 1814 o novo governador, Dom Diogo de Souza, obteve a concessão de uma grande sesmaria ao norte, com o fim expresso de estimular a agricultura local. Com o crescimento de cidades próximas como Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha, e em vista de sua privilegiada situação geográfica, na confluência das duas maiores rotas de navegação interna - a do rio Jacuí e a da Lagoa dos Patos - Porto Alegre começava a se tornar o maior centro comercial da Província. A frota permanente que frequentava o porto nesta altura contava com cerca de cem navios, sendo construído um grande trapiche lago adentro para acostamento e aberta uma alfândega. Também se iniciavam exportações de trigo e charque. Em 1816 se haviam comerciado 400 mil alqueires de trigo para Lisboa, e em 1818 se venderam mais de 120 mil arrobas de charque, produto que logo assumiria a dianteira na economia da Província.[3]
Em 26 de abril de 1821 eclodiu uma primeira manifestação pública de contestação política na cidade, quando a Câmara, desobedecendo a determinações da Constituição Portuguesa que havia sido jurada pelo Príncipe Regente Dom Pedro, elegeu uma junta ministerial, que governou de 22 de fevereiro até 8 de março de 1822. Em 14 de abril deste ano, por decreto de D. Pedro I, a vila ganhou foro de cidade. Dois anos depois chegavam à cidade os primeiros imigrantes alemães, como parte do projeto da Coroa de promover a colonização no sul, e para auxiliar na agricultura gaúcha. Foram recebidos com honras na capital e logo se lhes forneceram equipamentos para iniciarem suas lavouras, junto com lotes de terra na Real Feitoria do Linho Cânhamo, que fora desativada, embora alguns tenham permanecido próximo da área urbana, dando origem ao bairro dos Navegantes. Em 1831 se estabeleciam novos limites para a cidade através da publicação das primeiras Posturas Municipais, tratando em especial da polícia urbana.[3]
Estátua do conde na Praça Conde de Porto Alegre
Mapa de Porto Alegre em 1840, vendo-se à esquerda a linha de fortificações

[editar] A Revolução Farroupilha

A situação geral da economia da Capitania, entrementes, não andava bem. Segundo Riopardense de Macedo, "já nos últimos anos que a precederam (a Independência), um imposto lançado sobre o charque fizera cair a exportação que, de 120.790 arrobas em 1818, tornara-se em 1822, de somente 27.457. Pela mesma época a produção de trigo também decaía, não só pela praga da ferrugem como pela maior praga dos agricultores, que era o calote oficial, o não pagamento da parte que o governo arrecadava. Escolas, estradas, pontes, direitos, justiça, não se lhes dava. Nas estâncias e passagens dos rios fazia-se sentir a autoridade governamental com a cobrança de dízimos e pedágios … ".[3]
Em 20 de setembro de 1835, como resultado de insatisfação econômica e política, e culminando uma série desentendimentos com o governo central, foi iniciado na cidade um conflito que logo tomou um cunho republicano e separatista, a Revolução Farroupilha. O primeiro combate travou-se na antiga Ponte da Azenha, e no dia seguinte a cidade foi ocupada pelas forças revolucionárias, chefiadas pelos coronéis José Gomes de Vasconcelos Jardim e Onofre Pires. No dia 25 entrava solenemente na cidade o general Bento Gonçalves, e a Câmara Municipal e a Assembléia Provincial Legislativa deram posse ao novo Presidente, Dr. Marciano Pereira Ribeiro. Porto Alegre esteve sob o domínio revolucionário até 15 de junho de 1836, quando o legalista Major Manoel Marques de Souza, mais tarde Conde de Porto Alegre, conseguiu retomar a cidade. Durante o longo sítio que sofreu em sequência, diversas modificações foram impostas à rotina da cidade, como era de esperar, e foi elaborada uma reforma nas Posturas Municipais a fim de organizar a vida dos moradores e prover a necessária defesa. Porto Alegre conseguiu resistir a todos os cercos e ataques dos farroupilhas, permanecendo fiel ao governo imperial, razão por que a cidade recebeu do Imperador Dom Pedro II, em novembro de 1841, o título de Leal e Valorosa, que até hoje consta em seu brasão.[3]

[editar] Crescimento

Apesar do aumento populacional daqueles tempos de guerra, a malha urbana só voltaria a crescer em 1845, com o fim da Revolução e a derrubada das fortificações que cercavam a cidade, acompanhando a normalização do panorama provincial como um todo e a reativação da economia local. A importância do porto da cidade para a circulação de gentes e bens pela Província toda crescia de acordo, o que iria iniciar um processo de ampliação da cidade à custa do lago, com a construção de sucessivas benfeitorias e aterros no litoral. No centro se realizaram melhoras em diversos equipamentos públicos, construindo-se fontes públicas para abastecimento de água, estendendo-se ruas, criando novos cemitérios, construindo uma nova cadeia, um grande Mecado Público, asilos e uma nova Câmara, e estruturando o atendimento médico com a consolidação da Santa Casa de Misericórdia e da Beneficência Portuguesa. Enquanto isso os aldeamentos satélites floresciam em relativa autonomia, adquirindo importância os arraiais do Menino Deus e dos Navegantes, hoje bairros quase centrais, e a Aldeia dos Anjos, hoje parte de Gravataí.[3] Nota trágica foi a epidemia de cólera que irrompeu na cidade em 1855, ceifando mais de 1.400 vidas, o que se repetiria dez anos depois, mas com bem menor número de mortes.[2]
Igreja de Nossa Senhora da Conceição
A partir de então a economia da cidade se diversificou, instalando restaurantes, pensões, pequenas manufaturas, alambiques e diversos estabelecimentos comerciais. No período de 1865 a 1870 a Guerra do Paraguai transformou a capital gaúcha na cidade mais próxima do teatro de operações. A cidade recebeu dinheiro do governo central, além de serviço telegráfico, novos estaleiros, quartéis, melhorias na área portuária. Em 1872 as primeiras linhas de bonde entraram em circulação. Construiu-se a Usina do Gasômetro (1874) e implantou-se uma rede de esgotos (1899).[6]
Em 1884 decretou-se a libertação dos escravos, quatro anos antes da Lei Áurea, indício de que a discussão política e social na cidade já adquirira considerável vigor, com partidos políticos ativos e vários jornais de opinião em circulação, como A Democracia e A Federação, de ideais republicanos.[2] Por esta época já estava avançado o processo de conurbação do centro histórico com os arraiais vizinhos, e as áreas intermédias começam a ser valorizadas para estabelecimento de loteamentos, surgindo os núcleos dos futuros bairros Floresta, Bom Fim, Independência, Moinhos de Vento e vários outros.[3] Porto Alegre se tornava também o lar de algumas famílias de imigrantes italianos, vindas na onda colonizadora que se concentrou na Serra do Nordeste,[7] e de polacos não adaptados que se haviam instalado originalmente no interior do estado. Logo ambos os grupos fundavam sociedades e se organizavam.[8]
A cultura de Porto Alegre mostrou na segunda metade do século um significativo avanço. A elite já ostentava hábitos elegantes, tendo amadurecido a ponto de mostrar interesses variados em arte e alimentar uma vida cultural significativa, onde brilharam os primeiros intelectuais, educadores e artistas locais de real mérito, como Antônio Vale Caldre Fião, Hilário Ribeiro, Luciana de Abreu e Pedro Weingärtner, a quem se juntaram outros de fora como Apolinário Porto-Alegre e Carlos von Koseritz. O influxo de influências francesas e alemãs forneceu elementos culturais adicionais para desencadear os primeiros movimentos modernos no terreno da arte da capital, que em 1880 já possuía mais de 40 mil habitantes mas ainda construía casario e grandes edifícios em estilo Barroco colonial como a Igreja da Conceição. São importantes por então o entusiasmo da Sociedade Parthenon Litterario, ativa desde 1868, formada pela flor da intelectualidade gaúcha, e a realização em 1875 do primeiro salão de artes, como uma seção da Grande Exposição Commercial e Industrial. Ao mesmo tempo foi aberta a primeira galeria comercial de arte e surgiu a primeira idéia de se criar em Porto Alegre uma escola de artes, proposta do cenógrafo Oreste Coliva acolhida com calor pela imprensa e os círculos ilustrados, embora o projeto, ambicioso demais para o momento histórico, não tenha frutificado.[9] Outras áreas da arte igualmente demonstravam vitalidade, como a música. Algum treinamento musical se tornara parte obrigatória da educação da elite, os festejos públicos e privados sempre se valiam da música, havendo já diversos grupos instrumentais em atividade, e se destacava o maestro Joaquim Mendanha, antigo membro da Capela da Corte do Rio, professor e fundador da Sociedade Musical de Beneficência Porto-Alegrense, além de ser o Mestre-de-Capela da Matriz. Nesse período também se inaugurou o Theatro São Pedro, uma grande casa de ópera, e fundou a Sociedade Filarmônica Porto-Alegrense, a fim de financiar uma escola de música e organizar concertos para seus sócios.[10][11]
Depois da instauração da República a situação política no estado se tornou confusa, ocasionando o acirramento de rivalidades e anomalias institucionais, como em 12 de junho de 1892, quando no mesmo dia estiveram à testa do governo estadual simultaneamente dois presidentes, assumindo por fim provisoriamente um terceiro. Em 1893 a tensão explodiu na sangrenta Revolução Federalista, que pretendia "libertar o Rio Grande do Sul da tirania de Júlio de Castilhos", então presidente do estado, que havia iniciado reformas e imposto uma Constituição Estadual de inclinação positivista. Os combates não chegaram às portas da cidade, mas por ser ela a capital dividiu ali dramaticamente as opiniões. Terminou com o triunfo de Júlio de Castilhos e aniquilamento da oposição, ainda que nem todas as vozes se calassem, consolidando um regime que embora autocrático teve significativo sucesso no manejo de uma herança administrativa ineficiente, lançando os alicerces do progresso acelerado do início do século XX. Em 1897 foi sucedido por seu fiel discípulo Borges de Medeiros, que governaria até 1928.[2]

[editar] Século XX

[editar] Os primeiros trinta anos

Na virada do século Porto Alegre passou a ser vista como o cartão de visitas do Rio Grande do Sul, idéia perfeitamente alinhada com os propósitos do Positivismo, corrente filosófica abraçada pelos governos estadual e municipal, e por isso a cidade deveria transmitir uma impressão de ordem e progresso. Para transformar a idéia em fato, a Intendência iniciou um enorme programa de obras públicas, que foram apoiadas em larga medida pelo governo estadual, circunstância favorecida pela Constituição de 1891, que na prática entregava ao estado grande poder sobre os municípios, a ponto de Borges poder impor modificações na Lei Orgânica municipal, restringindo a atuação do Intendente. Partia do Governador a indicação do Intendente, e Borges sucessivamente escolheu José Montaury para a chefia da cidade, elogiando sua capacidade de administrar às claras, minorar o sofrimento dos pobres e refrear a ganância dos capitalistas. A fim de melhor controlar o processo desenvolvimentista, o município atraiu para si a responsabilidade sobre muitos serviços públicos, como o fornecimento de água encanada, iluminação, transporte, educação, policiamento, saneamento e assistência social, em um volume que ultrapassava em muito o hábito da época e superava o que faziam na mesma altura São Paulo e Rio de Janeiro.[12]
Centro de Porto Alegre nas primeiras décadas do século XX
Paço Municipal
Antigo Banco da Província
Para fazer face à despesa, o governo passou a tomar empréstimos no exterior, iniciando a acumulação de significativa dívida externa. Entre 1909 e 1928 a cidade pediu empréstimos no valor de 600 mil libras esterlinas mais quase 10 milhões de dólares , além de ter de arcar com a contratação de um grande número de novos funcionários públicos.[12] Esse programa de governo, o Plano Geral de Melhoramentos, resultou também em uma explosão na construção civil de caráter monumental, renovando a paisagem urbana. Foi quando se ampliou o porto num projeto vasto e ambicioso, e se ergueram alguns dos mais significativos e luxuosos prédios históricos da capital, alguns carregados de simbolismo, incluindo o Palácio Piratini, a Prefeitura, a Biblioteca Pública, o Banco da Província, os Correios e Telégrafos, e a Delegacia Fiscal, boa parte deles construídos pela parceria entre o arquiteto Theodor Wiederspahn,[13] o engenheiro Rudolf Ahrons e o decorador João Vicente Friedrichs. Também começava a dar frutos positivos a atividade das primeiras faculdades, instaladas no ocaso do século XIX: Farmácia e Química em 1895, Engenharia em 1896, Medicina em 1898 e Direito em 1900. Ao mesmo tempo, a indústria se fortalecia e começava a substituir definitivamente as manufaturas e o artesanato e a posição central de Porto Alegre no comércio de todo o estado já estava firmemente consolidada. A cidade recebia ainda imigrantes, agora incluindo judeus da Europa, além de mais italianos e polacos, bem como migrantes de outros estados do Brasil. Vários de seus representantes dariam contribuição significativa em diversas atividades.[3][14]
A despeito das evidentes melhoras, a administração castilhista foi alvo de crescente número de críticas, tanto por suas inconsistências, fracassando por exemplo no campo da habitação popular, como por seu continuísmo dogmático e conservador, embora Montaury fosse muito respeitado por sua probidade e estimado como pessoa. A insatisfação dos opositores do castilhismo se revelou por fim na violenta Revolução de 1923, que tentou apear Borges do poder em meio a uma grave crise econômica e evidências de fraudes eleitorais. Borges permaneceu, mas a Constituição Estadual foi reformada, retirando o poder do governador de nomear Intendentes e impedindo sua reeleição para dois mandatos consecutivos. Com isso em 1924 José Montaury deu lugar a Otávio Rocha. Neste momento Porto Alegre já tinha 190 mil habitantes.[11][12]
Otávio Rocha, também castilhista, empenhou-se ainda mais para a reforma da cidade, desejando transformá-la em uma "nova Paris". No seu programa estavam previstas as construções de avenidas largas, bulevares e rótulas e, para colocá-lo em prática, especialmente na área central, mandou derrubar dezenas de casarões e cortiços, que simbolizavam pobreza e atraso, e incrementou diversos outros equipamentos e serviços públicos. Tais reformas, no entanto, aumentaram o endividamento da capital obrigando à criação de uma série de novos impostos: sobre as profissões, os divertimentos, o comércio e a indústria, a caridade, a conservação de ruas e estradas, os serviços de coleta de lixo e aferição de pesos e medidas. Em 1927, três mil automóveis já circulavam em Porto Alegre, número inferior apenas ao da frota de São Paulo.[11][15]
Na cultura também houve realizações notáveis nos primeiros trinta anos do século XX. Segundo Maria Teresa Baptista,[6]
Cquote1.svgOs ideais positivistas não se restringiram às esferas da política e da religião, também influenciaram no plano cultural. Como consequência disso, inaugura-se o Teatro Polytheama (1898), o Arquivo do Estado (1906), e muitos outros estabelecimentos que mostravam o interesse do governo pelas diversas áreas da vida social e intelectual do Estado republicano(…)Cquote2.svg
[6]
Em 1901 foi fundada a Academia Rio-Grandense de Letras, agregando muitos jornalistas, poetas e escritores, como Caldas Júnior, Marcelo Gama, Alcides Maia e Mário Totta. Logo em seguida se fundou o primeiro museu do estado, o Museu Júlio de Castilhos, criado em 1903 para abrigar objetos que vinham sendo coletados desde 1901 e estavam depositados nos pavilhões construídos para a 1ª Exposição Agropecuária e Industrial.[16] No mesmo ano ocorreu o primeiro evento inteiramente dedicado às artes, o Salão de 1903, promovido pela Gazeta do Commercio. Este salão, segundo Athos Damasceno, foi "o primeiro certame a dar às artes do Rio Grande do Sul um estatuto de autonomia (…) legitimando-as como objeto de aprovação e distinção social".[9] Outro marco foi fundação em 1908 do Instituto Livre de Belas Artes, antecessor do atual Instituto de Artes da UFRGS, incluindo cursos de música e artes plásticas, que concentraria a produção de arte na capital e seria no estado praticamente a única referência institucional significativa até meados da década de 1950 nos campos do estudo, ensino e produção de arte. O Instituto "foi criado por amadores da arte como culminância do projeto civilizatório formado pelas escolas superiores livres e que constituíram a origem da primeira universidade na região", mas logo profissionais se juntariam e "assumiriam sua condição de agentes, passando a expressar a autonomia da arte, valendo-se do seu lugar institucional".[17] No Instituto ensinaram alguns do nomes mais notórios da pintura local desse início de século, como Oscar Boeira, Libindo Ferrás e João Fahrion, junto com artistas de fora como Eugenio Latour e Francis Pelichek e Luiz Maristany de Trias.[9] Um pouco mais tarde despontam mais nomes de peso na literatura e na poesia, como Augusto Meyer, Dyonélio Machado e Eduardo Guimarães, além de a atividade da Biblioteca Pública do Estado, reinaugurada com grandes ampliações em 1922, contribuir significativamente para dinamizar as letras locais.
Primeira formação da Banda Municipal
Manchetes do Correio do Povo sobre a ascensão de Getúlio à presidência da República
Arquitetura dos anos 1930 - o desaparecido Mercado Livre, e ao fundo o Palácio do Comércio, ainda existente
Na música o Club Haydn, mesmo formado em sua maioria por amadores, desempenhava papel importante organizando muitos recitais, divulgando autores europeus e brasileiros, complementando as temporadas do Theatro São Pedro, onde se apresentaram astros como Arthur Rubinstein e Magda Tagliaferro e se encenou a primeira ópera gaúcha, Carmela, de José de Araújo Viana, e o ensino qualificado ministrado pelo Instituto de Belas Artes, onde atuavam o mesmo Viana junto com Max Brückner, Tasso Corrêa e Olinto de Oliveira. Em 1925 foi criada a Banda Municipal de Porto Alegre, rapidamente se tornando uma favorita do público, executando concertos de repertório erudito ao ar livre e em teatros.[18] No mesmo ano apareceu o Centro Musical Porto-Alegrense, que associava praticamente todos os profissionais da música da cidade e deu origem à Sociedade de Concertos Sinfônicos, em 1927, e na década seguinte ao primeiro sindicato da categoria.[10][11] O cinema se tornava uma moda [19] e o esporte já contava com clubes como o Grêmio e o Internacional, que seriam grandes forças no futebol brasileiro anos mais tarde.[20]

[editar] Década de 1930

Com o inesperado falecimento de Otávio Rocha em 1927 assumiu interinamente Alberto Bins, seu vice, concorrendo no ano seguinte como titular da chapa e obtendo o cargo. Foi confirmado em seu posto após a Revolução de 1930, que extinguiu os mandatos municipais. As avenidas centrais da cidade, recém abertas, sintomaticamente receberam os nomes de Avenida Júlio de Castilhos e Avenida Borges de Medeiros. Já Otávio Rocha, o Intendente recém falecido, foi homenageado com uma rua, uma praça e o primeiro viaduto da cidade.[21] Ainda que o Plano Geral de Melhoramentos tenha continuado como base do projeto político administrativo de reformas e modernização, algumas mudanças se faziam necessárias. Edvaldo Paiva e Ubatuba de Faria, funcionários do município, e Arnaldo Gladosch, contratado no Rio, esboçaram alguns ensaios de reorganização da malha urbana central de acordo com os princípios modernos, mas nenhum se implantou em plenitude. Paralelamente foi ideado outro modelo para a expansão periférica e horizontal da cidade. Vários bairros ou loteamentos residenciais propuseram uma interpretação local do protótipo da "cidade-jardim", com um traçado orgânico, construções isoladas em baixa escala e densa vegetação, cujos melhores exemplos são a Vila Jardim, a Vila Assunção e a Vila Conceição.[22] O aterro do Guaíba prosseguiu e iniciaram-se também a urbanização da Várzea da Redenção e a arborização de outros espaços de lazer; ampliou-se o calçamento das ruas e as redes de água, esgoto e energia elétrica. Ele teve a vantagem de, sendo um próspero descendente de imigrantes, ser bem relacionado com a influente comunidade alemã do estado, constituindo-se mesmo em representante da colônia frente ao Partido Republicano e ao parlamento, e com significativos grupos da burguesia comercial e industrial da cidade. Amparou a classe operária fundando em 1930 um Comitê, e instituiu sindicatos de apoio aos industriais.[12][21] Outra de suas obras foi a organização da grande Exposição do Centenário Farroupilha, em 1935, a maior que Porto Alegre vira em toda a sua história, e que, construindo seus pavilhões em estilo Modernista, influenciou decisivamente a evolução da arquitetura da cidade.[23] Governou a capital até 1937. Às vésperas de deixar a Intendência a cidade passava por uma crise, tendo expressiva parcela dos contribuintes solicitado moratória.[12]
Entrementes Getúlio Vargas se aproximava da Alemanha, o Rio Grande do Sul aumentava suas exportações de couro e fumo para lá, e os muitos alemães de Porto Alegre, bem como de resto toda a colônia do estado, que somava mais de 900 mil pessoas nesta época, demonstravam estar muito organizados, vários enriqueceram e atingiram posições de destaque na cidade e pelo interior, como o próprio Alberto Bins, havendo até uma série de jornais em alemão para este público específico, onde se discutia desde política até tecnologias agroindustriais. Os três jornais alemães de Porto Alegre, o Vaterland, o Neue Deutsche Zeitung e o Deutsches Volksblatt, eram todos pró-Nazismo, em graus variados. Com as simpatias do governo federal voltadas para a Alemanha e seu regime, e com a comunidade local animada semelhantemente, logo se testemunharam a cidade manifestações populares com batalhões de jovens fardados carregando bandeiras com a cruz suástica. Na esfera do governo, em declarações públicas Bins expressou sua simpatia pelo Nazismo.[2]
Mas nem todos concordavam com o rumo dos acontecimentos. Intelectuais como Erico Verissimo e Dyonélio Machado, irritados com o clima opressivo, e sentindo-se alinhados com a cultura e arte dos Estados Unidos, fundaram em 1938 o Instituto Brasileiro Norte-Americano.[2] Na educação foi importante nesta época a criação Universidade de Porto Alegre, de âmbito estadual, que foi a antecessora da UFRGS, enquanto que já existiam grandes colégios em funcionamento, como o Anchieta, o Júlio de Castilhos e o Rosário.[11] No campo cultural pelo fim dos anos 1930 o Modernismo já estimulava um debate intenso entre a elite pensante sobre os novos rumos que a arte vinha tomando, tendo sido o novo estilo introduzido em Porto Alegre primeiro pelas artes gráficas, com destaque para as ilustrações em revistas como a Revista do Globo, que tinha grande circulação, e que mantinha em suas oficinas um grupo de talentosos ilustradores, alguns dos quais mais tarde definiriam o perfil de toda a melhor arte local e estadual. Entre eles estavam Ernest Zeuner, Edgar Koetz, Francis Pelichek e João Fahrion.[9][24] Grande parte da movimentação cultural ocorria nos cafés, especialmente na Confeitaria Central, na Confeitaria Rocco, no Chalé da Praça XV e no Café Colombo. Formou-se o chamado Grupo do Café Colombo, composto por alguns dos mais destacados personagens do mundo cultural de então, como Mario Quintana, Dante de Laytano, Walter Spalding, Barbosa Lessa, Theodomiro Tostes, Moysés Vellinho, Dyonélio Machado, Pedro Wayne, Telmo Vergara, Raul Bopp, Radamés Gnatalli, Fernando Corona e Augusto Meyer. O Café Central era o foco de concentração dos políticos. Cassinos e clubes ofereciam programas culturais com música, dança e representações cênicas, geralmente de caráter populares, e o Theatro São Pedro centralizava a música e o teatro eruditos.[25]

[editar] Décadas de 1940 e 1950

Em 1940 o município contava com cerca de 385 mil habitantes e seus índices de crescimento eram positivos para a indústria, a construção civil, a educação, a saúde, a eletrificação, o saneamento, o movimento portuário, os transportes e as obras de urbanização. A ligação rodoviária e aérea com o centro do Brasil foi incrementada, e a rede ferroviária para o interior do estado se expandia.[26] Segundo Olavo Ramalho Marques, José Loureiro da Silva é lembrado como um dos grandes responsáveis pela modernização da cidade, afastando-a de uma herança colonial obsoleta e conduzindo-a a um estatuto de metrópole – ou ao menos preparando-a para isso. Em sua gestão se iniciaram obras importantes como a abertura de grandes avenidas como a Farrapos, a Salgado Filho e a André da Rocha, bem como o prolongamento das avenidas Borges de Medeiros e João Pessoa. Iniciando seu governo sob o Estado Novo de Getúlio Vargas, foi nomeado por este para a prefeitura e governou com a Câmara Municipal fechada, numa transição que esteve longe de ser pacífica. Entretanto foi um governante popular, e mesmo sendo homem de confiança de Getúlio, através do que poderia exercer um poder autoritário, decidiu criar o Conselho do Plano Diretor, que propôs um novo modelo de organização urbana com a definição de uma planta radial e descentralizada, a fim de solucionar os perenes engarrafamentos que já se verificavam no centro, pois as reformas anteriores do Plano Geral de Melhoramentos se ressentiam da falta de uma atribuição mais coerente e funcional do uso do solo para as várias atividades humanas. Outro aspecto interessante de sua administração foi a intensificação dos debates em torno da definição de uma versão oficial da história da cidade, estabelecendo-se como seu marco inicial a concessão das terras ao sesmeiro Jerônimo de Ornellas - e não o início efetivo do povoamento. Para isso foi auxiliado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, coordenado pelo historiador Walter Spalding, culminando na publicação do primeiro estudo histórico de fôlego sobre Porto Alegre, o livro de Spalding Porto Alegre: biografia duma cidade, com mais de 700 páginas e farta documentação.[3][27]
Um dos acontecimentos mais marcantes desses vinte anos foi a grande enchente de 1941, que deixou 80 mil flagelados.[28] Evento importante foi o início da mobilização dos negros com a fundação em 1943 da União dos Homens de Cor, que cinco anos mais tarde já estaria ramificada por mais dez estados da Federação.[29] Também a II Guerra Mundial obrigou a adaptações. As dificuldades impostas ao comércio internacional criaram escassez de vários bens, mas por outro lado estimularam o surgimento de novas indústrias, principalmente metalúrgicas, químicas e tecelagens, em torno das quais se formam núcleos de novos bairros, em especial na zona norte, na área da várzea do rio Gravataí, povoados por uma população em grande parte proveniente do interior do estado, atraída pela acelerada demanda por mão-de-obra. O fim da Guerra liberou a importação de veículos e o uso de gasolina, verificando-se a expansão da frota privada e pública, dinamizando os serviços de transporte coletivo. Em vista da insuficiência de recursos para atender às crescentes necessidades sociais, a prefeitura lançou mão do expediente de ampliar a área legal da zona urbana, possibilitando o aumento na taxação e abrindo vastas áreas ao loteamento, o que se revelou contraproducente, pois tornando urbanos terrenos rurais muito distantes do centro densificado e urbanizado, se obrigava a estender até lá os serviços públicos, com custos excessivamente altos. Com isso os sistemas de transporte, saneamento e água encanada enfrentaram uma crise adaptativa. O perfil da cidade mudava rápido sob a pressão do crescimento, e o explosivo aumento populacional dos anos 1940, quando se passou dos 350 mil habitantes, exigia rápidas atitudes no planejamento das zonas residenciais em expansão, exigindo a concepção de soluções em grande escala. No fim da década o inchaço populacional já mostrava sua face sombria, com a presença de vários focos de favelização nas periferias.[3]
O Palácio Farroupilha
Glênio Bianchetti: Jogo do osso, xilogravura, 1955. Acervo do MARGS. Exemplo da arte regionalista de cunho social praticada pelo Clube de Gravura e que se tornou importante para a renovação das artes gráficas brasileiras
Iniciando os anos 1950 se firmava como dominante a influência do Modernismo arquitetônico e neste intervalo se ergueram grandes prédios públicos de linhas modernas, como o Palácio Farroupilha para sede da Assembléia Legislativa,[30] e o Palácio da Justiça. Dentre outros projetos de interesse nessa fase pode-se citar o Hipódromo do Cristal,[31] o Hospital Fêmina, a sede antiga do Aeroporto Salgado Filho, a Faculdade de Farmácia da UFRGS.[32]
Outro prefeito que marcou época foi Ildo Meneghetti, muito estimado. Em suas duas administrações deixou obras importantes, priorizando a habitação popular, exemplificada na Vila do IAPI, que hoje é patrimônio cultural do município,[33] melhorando o abastecimento e o transporte coletivo, onde se destaca, em 1953, a encampação do serviço de bondes, até então controlado pela Eletric Bond and Share, e a partir daquela data oferecido pela Companhia Carris Porto-Alegrense, empresa pública municipal. Era getulista, continuando de certa forma a longa tradição iniciada no estado por Júlio de Castilhos e que servira de inspiração para o próprio Getúlio Vargas. Quando este se suicidou no Rio em 1954, ocorreram violentas manifestações de rua na cidade, que acabaram com os Diários Associados sendo incendiados pela multidão. Em seguida assumiu a prefeitura Leonel Brizola, confirmando o Trabalhismo do PTB no poder e iniciando sua própria "escola" política.[2]
No fim dos anos 1950 o centro urbano já estava repleto de edifícios de altura considerável e a cidade já podia ser perfeitamente considerada uma das grandes capitais do Brasil, com uma variada rede de serviços e uma economia muito ativa.[3][34] Com cerca de 400 mil habitantes, já realizara sua primeira Feira do Livro,[35] dispunha de um museu especialmente dedicado às artes, o MARGS, uma universidade federal, a UFRGS, ouvia os concertos de sua nova orquestra sinfônica, a OSPA, e nomes como Mario Quintana, Aldo Obino, Lupicínio Rodrigues, Dante de Laytano, Aldo Locatelli, Manuelito de Ornelas, Paixão Côrtes, Walter Spalding, Bruno Kiefer, Túlio Piva, Barbosa Lessa, Armando Albuquerque, Ado Malagoli, Ângelo Guido e o Clube de Gravura de Porto Alegre, entre muitos outros, já se haviam tornado referência nos campos da literatura, poesia, historiografia, tradicionalismo e folclore, artes plásticas, música e crítica de arte. Nesta altura a Rua da Praia se tornara um dos pontos mais glamurosos da cidade, onde desfilava a elite entre cinemas, cafés e lojas de artigos finos.[36]
Também no encerramento dos anos 1950 foi implantado enfim o primeiro Plano Diretor de Porto Alegre, composto por Edvaldo Paiva e Demétrio Ribeiro com base na Carta de Atenas, e que se amparou por uma legislação específica. Para Helton Bello com este Plano se acentuou a verticalização da cidade, fazendo Porto Alegre
Cquote1.svgconhecer o maior crescimento edilício de sua história, o que alterou significativamente a morfologia urbana. (…) Os princípios básicos do Modernismo passaram a compor um instrumento legal através de parâmetros para a estruturação da cidade. Tais padrões consistiam na racionalização das atividades, das vias e na instituição de índices urbanísticos (densidade, potencial construtivo do lote, recuos e altura predial), que foram sendo aplicados segundo o crescimento das áreas urbanizadas.Cquote2.svg
[22]

[editar] Décadas de 1960 e 1970

Os anos 60 iniciaram com Loureiro da Silva obtendo novamente a prefeitura com o propósito de saneá-la financeiramente. Fez também grandes investimentos em obras, concluindo o calçamento de 150 ruas, construindo 18 praças públicas e obtendo, junto ao governo de Jânio Quadros, os recursos necessários para o saneamento da bacia do Arroio Dilúvio e para a pavimentação da Avenida Ipiranga. Na área de educação, inaugurou 85 novos prédios escolares e deixou em andamento outros 27. Entretanto, a confusa situação política brasileira se refletia dramaticamente na cidade também. Com a renúncia de Jânio em 25 de agosto de 1961, Brizola, agora governador, iniciou a articulação do movimento da Legalidade, em acordo com várias lideranças políticas, sindicais e estudantis. Iniciando uma passeata a partir da Prefeitura, no curto trajeto desta até o Palácio Piratini já se haviam reunido 5 mil pessoas. No dia 27 aconteceu a intervenção militar na Rádio Gaúcha, silenciando-a. De imediato Brizola requisitou a Rádio Guaíba e iniciou uma rede radiofônica pela Legalidade. No dia seguinte foi autorizado o bombardeio do Palácio e foi enviada uma força naval para intervir no estado. Então novas manifestações populares de apoio ao movimento, que contaram com o aval da Igreja Católica e do próprio comando do III Exército, aconteceram em frente ao Palácio, que a esta altura estava cercado de barricadas. O bombardeio acabou sendo abortado pela desobediência dos soldados encarregados de fazê-lo.[2]
Apresentação de dança gauchesca
Nesta época o movimento de tradicionalismo gauchesco, fundado em Porto Alegre, começou a sua disseminação a partir da capital. Apareceram Barbosa Lessa e Paixão Cortes figuras de proa nesse processo, iniciando uma série de pesquisas antropológicas quando essa ciência mal era reconhecida no estado.[37] Sua busca, porém, estava em sua origem mais ligada a um desejo de reconstrução histórica do que de interpretação, e paradoxalmente iniciou no ambiente urbano. Em 24 de abril de 1948 aqueles folcloristas, junto com um grupo de jovens estudantes, fundaram em Porto Alegre o Centro de Tradições Gaúchas 35. Ali tomavam mate e imitavam os hábitos do interior, entre eles o da charla (conversa) que os peões entretêm nos galpões das estâncias. Barbosa Lessa recorda que
"não se tinha muita pretensão de revolucionar o mundo, embora nós não concordássemos com aquele tipo de civilização que nos era imposto de todas as formas (…) não pretendíamos escrever sobre o gaúcho ou sobre o galpão: desde o primeiro momento, encarnamos em nós mesmos a figura do gaúcho, vestindo e falando à moda galponeira, e nos sentíamos donos do mundo quando nos reuníamos, sábado à tarde, em torno do fogo-de-chão".[38]
Desde lá o movimento tradicionalista foi lentamente ganhado visibilidade e se constituindo num verdadeiro estilo de vida para muitas pessoas mesmo nos núcleos urbanos. Nos anos 60 apareceram artigos e palestras sobre o assunto, e também a figura de Teixeirinha, um fenômeno de popularidade. Em 1971 se realizou a primeira Califórnia da Canção Nativa, que se ramificou em centenas de outros festivais similares pelo estado, onde aspectos da música pop também foram assimilados. Esses festivais deram espaço para expressões politicamente engajadas que levaram a uma integração entre regionalismos campeiros de vários países do Cone Sul, cujas histórias tiveram muitos pontos de contato. A partir da década de 1980, enfim, o ritmo desse processo cresceu enormemente, a ponto de ganhar respaldo da cultura oficial, atrair simpatizantes de outras origens culturais além da campeira como os alemães e italianos, e inspirar a criação de centenas de CTGs, além das fronteiras estaduais, até no exterior.[2][38]
Palácio Piratini
Centro Administrativo do Estado, com uma escultura de Carlos Tenius em primeiro plano representando a colonização açoriana
Paralelamente, a vida boêmia de Porto Alegre nesta época já se caracterizava por um forte colorido político e cultural, reunindo expressivo grupo de intelectuais e produtores artísticos influentes, alinhados ao Existencialismo e ao Comunismo. Entre o fim da década anterior e os anos que precederam o golpe militar de 64, eram montadas peças teatrais de vanguarda, em abordagens polêmicas e desafiadoras do status quo; as artes plásticas mostravam uma arte realista/expressionista de cunho social, que por vezes adquiria um tom panfletário - destacando-se a atuação de grandes artistas como Francisco Stockinger, Vasco Prado e Iberê Camargo - e a Livraria Vitória se tornava a maior arena de discussão filosófica e política. Quanto ao golpe, Porto Alegre foi o palco de importantes movimentos políticos que levaram à sua concretização, comandados pelo então governador Ildo Meneghetti a partir do Piratini. Novamente o povo se manifestou, exibindo-se em vários comícios e passeatas, tanto pró como contra o golpe, às vezes enfrentando a repressão da Brigada Militar, ocorrendo centenas de prisões. Assegurado o sucesso do golpe, logo o novo governo iniciou um programa de censura sistemática a todas as expressões contrárias. Políticos foram cassados, os sindicatos fechados, jornais foram interditados e até mesmo na UFRGS se verificaram vários expurgos de professores.[2] Ao mesmo tempo as perseguições se estendiam à esfera religiosa, com a repressão dos cultos afro.[39]
Com os sucessores de Loureiro da Silva a verticalização da urbe se acelerou e se construíram diversos novos conjuntos industriais, além de extensos conjuntos habitacionais financiados pelo Banco Nacional da Habitação.[22] Thompson Flores fez um governo caracterizado por grandes obras, em especial na área dos transportes, favorecido pelo surto econômico do Milagre Brasileiro, quando o PIB do país ascendia numa média vertiginosa de 11,2% ao ano.[2] Desativou o bonde e incentivou o transporte automotivo. Construiu seis grandes viadutos, mas a abordagem tecnicista de alguns projetos desconsiderou aspectos elementares de paisagismo urbano - veja-se o caso paradigmático da destruição do entorno e da perspectiva do Edifício Ely com a construção da Elevada da Conceição, uma intervenção viária dramática em pleno centro histórico. Nesse afã progressista desapareceram inúmeros edifícios antigos, alguns de grande importância.[2][40][41] Durante sua gestão também ocorreram a inauguração do Parque Moinhos de Vento, da nova Estação Rodoviária, a abertura do bairro Restinga e a construção do Muro da Mauá, entre a avenida Mauá e o Cais do Porto, obra destinada a evitar enchentes, mas que até hoje tem sua utilidade contestada, além de ser acusada de impedir o acesso da população à orla do Guaíba.[41] Mesmo assim foi homenageado pouco antes de morrer com a Medalha do Mérito Urbanístico.[42] Teve de enfrentar o primeiro protesto público de natureza ecológica em Porto Alegre, que repercutiu nacionalmente [43] e as primeiras mobilizações da sociedade em defesa do patrimônio histórico, por ocasião da ameaça de demolição do Mercado Público.[44]
Esse período foi marcado pela crescente insatisfação com a situação política do Brasil. A ditadura militar recrudescia, reprimindo com bombas de fumaça e tropas de choque as greves e os vários protestos locais contra o regime, e a censura continuava em pleno vigor.[2] Nesse ambiente rigorosamente controlado a vida intelectual independente sobrevivia em guetos. Um deles foi a conhecida "Esquina Maldita", o cruzamento das avenidas Oswaldo Aranha e Sarmento Leite, no bairro Bom Fim, diante do campus central da UFRGS. De acordo com Nicole dos Reis, foi
Cquote1.svgum ponto de discussão das questões políticas locais e nacionais pelos intelectuais e artistas da época. Era um surgimento de um espaço de contestação em um bairro, o Bom Fim, que é citado (…) como o principal ponto de sociabilidade dos componentes desta rede social.Cquote2.svg
[45]
Juremir Machado da Silva complementa, reforçando sua importância, dizendo que ela foi um espaço em que
Cquote1.svgintensificou-se as lutas pela emancipação da mulher, fortaleceu-se o respeito pelos homossexuais, combateu-se o machismo, viveram-se radicalmente os sonhos das relações abertas e da liberdade sexual. Ou seja, partiu-se para a defesa das diferenças. Pela esquina maldita, Porto Alegre mergulhou na pluralidade cotidiana, caminhou em direção ao direito à singularidade e aprofundou-se no exame e na recusa do conservadorismo moral.Cquote2.svg
[45]
Socias Villela, que sucedeu Thompson Flores, governou até a fase de afrouxamento da ditadura e início de redemocratização. Ele introduziu uma nota nova na administração municipal valorizando a questão do meio ambiente e o convívio social. Em suas duas gestões foram inaugurados o Parque Marinha do Brasil, o Parque Maurício Sirotski Sobrinho, o Parque Vinte de Maio e o Parque Mascarenhas de Moraes, além de 35 novas praças e ampliações no Parque Moinhos de Vento e no Parque Farroupilha, totalizando o plantio de 1,15 milhão de árvores em oito anos de governo. Criou o Brique da Redenção, o Centro Municipal de Cultura e a primeira Secretaria Municipal do Meio Ambiente, pioneira no Brasil. Foi o autor da Lei do Impacto Ambiental, que dispõe sobre a prevenção e o controle da poluição no município. Em seu mandato foi referendado o novo Plano Diretor em 1979, onde os princípios modernistas continuavam em geral válidos num desdobramento da Carta de Atenas, embora algumas inovações fossem introduzidas, tais como uma inspiração no modelo das superquadras empregado em Brasília e uma maior participação da comunidade nas decisões através de Conselhos Municipais.[22] A fisionomia da cidade, porém, empobreceu, pois a qualidade geral das novas edificações decaiu e não pôde ocupar o lugar icônico de tantos prédios históricos valiosos que haviam sido destruídos.[40]
Passeata de abertura do Fórum Social Mundial de 2003

[editar] História recente

O Plano de 1979 não foi inteiramente bem-sucedido em sua aplicação. Estabelecendo novos índices construtivos, as mudanças deram origem a uma série de atritos entre moradores das zonas residenciais e deles com o poder público e com agentes imobiliários, pela autorização de espigões em áreas de predominância térrea, rompendo o tecido residencial de alguns bairros tradicionais por edifícios de até 20 pavimentos. A polêmica levou a uma nova reformulação da legislação nos anos 1980, quando se entendeu definitivamente que para favorecer um crescimento geral harmonioso seria necessário aprofundar a questão urbanística atraindo outras áreas do saber para a discussão, possibilitando a formulação de soluções mais dinâmicas, realistas e adaptáveis ao perfil cada vez mais fluente da cidade, e levando em conta aspectos de memória coletiva, identidade cultural e convívio humano. O êxito das propostas nesse sentido, que se sucederam à medida que os anos passavam, incluindo novas revisões do Plano Diretor, tem-se revelado contudo muito controverso, com avanços e recuos.[46]
Paralelamente, com a criação em 1981 da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural, pouco depois vinculada à Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, iniciou-se um processo de estudo e resgate dos bens culturais de propriedade do Município de especial interesse histórico, social e arquitetônico, sistematizando os tombamentos, que haviam iniciado poucos anos antes, em 1979.[47][48] Também se reconheceu a existência do "centro histórico", propondo-se medidas de conservação e desenvolvimento sustentável, o mesmo ocorrendo com outras áreas já estabilizadas como os bairros da "cidade-jardim" e zonas de especial interesse cultural.[22] Nasceu então uma nova consciência para com os prédios antigos e as áreas verdes, e com isso se salvaram muitas edificações seculares que estavam na lista de demolições.[40] O caso da Capela do Bonfim foi exemplar nesse sentido. Depois de muitos anos de abandono e degradação, incendiou no que se suspeitou ser um fogo criminoso. Nele perderam-se elementos importantes como o altar-mor entalhado, e sob o pretexto de estar muito arruinada quase foi demolida, mas a sociedade reagiu, e toda a polêmica subsequente contribuiu para marcar na consciência de todos, cidadãos e poder público, o valor da memória, da arte, da história e de seus testemunhos materiais. A Capela acabou sendo tombada e restaurada em 1983.[49]
Roda de Capoeira no Brique da Redenção
Parada Livre GLBT de 2009 no Parque da Redenção
Desfile da Semana Farroupilha, 2006
No início dos anos 1980 a sociedade civil começava a reconquistar seu espaço de representação política. A produção artística, que havia sido mantida sob a pressão da censura, rearticulou-se sob uma forma altamente politizada, reivindicando a normalização da vida institucional e cultural brasileira. Sandra Pesavento afirma que neste período
Cquote1.svgem Porto Alegre começa o movimento local ‘Deu Pra Ti anos 1970’ que comemorava o fim da década. A geração que crescera com o AI-5 e os deserdados dos anos 1960 e 70 reclamavam um outro país e uma outra cidade em seus sonhos.Cquote2.svg
[45]
Neste novo panorama da vida urbana porto-alegrense, um dos espaços mais importantes foi o já citado bairro Bom Fim e seus bares, formando quase uma república independente encravada no coração da cidade. Ali se reuniam os principais líderes da atividade contestatória da época, freqüentadores de diferentes ideologias, que viviam utopias transformadas em estilos de vida - como os punks, os rockers, freaks, darks, junto com cineastas, filósofos, poetas e literatos - das quais resultaria a definição de identidade de toda uma geração. Foi o ponto de efervescência da cena musical underground e pop, com o surgimento de várias bandas e cantores que marcaram a música local, como Os Replicantes, Bebeto Alves, Os Cascavelletes, Nei Lisboa, TNT, Graforréia Xilarmônica, Júpiter Maçã, entre outros, e que foram louvadas pela crítica do Brasil.[45] Novamente Juremir Machado da Silva esclarece:
Cquote1.svgCriamos um território de combate. Ali conviviam aqueles que estavam colocando em xeque os valores sociais. Mas, mais do que isso, estava na ordem do dia a discussão de um projeto político para a sociedadeCquote2.svg
[45]
No panorama cultural o que há ainda para destacar nos anos recentes é a intensificada atuação das universidades na pesquisa cultural e científica, com o desenvolvimento da crítica de arte e a formação de muitos novos mestres e doutores, a criação de vários centros culturais importantes como o Santander Cultural, a Casa de Cultura Mario Quintana, a Usina do Gasômetro e a Fundação Iberê Camargo, o crescimento do tradicionalismo, da cultura afro e das "artes da rua" como o graffiti, o carnaval e o hip-hop.[45] Muitas instituições da cultura, porém, se ressentem de uma crônica falta de recursos, em especial as públicas, com prejuízo para seus serviços e equipamentos.[50] Mas festejos populares tradicionais como as comemorações das Semana Farroupilha e a procissão de Nossa Senhora de Navegantes continuam atraindo grandes multidões, o mesmo que fazem as Paradas Livres GLBT e os domingos ensolarados na ponta do Gasômetro ou ao longo do Brique da Redenção, que se tornam grandes momentos de hamonioso convívio coletivo.[51][52][53]
Feira do Livro de 2007
Outros momentos marcantes de sua história recente foram a visita do papa João Paulo II,[54] as enormes manifestações públicas em favor da redemocratização do Brasil,[2] a criação do sistema administrativo do Orçamento Participativo, durante a gestão de Olívio Dutra, que projetou a cidade internacionalmente, sendo tomado como modelo de administração pública,[5] a inclusão do seu centro histórico no Programa Monumenta do Ministério da Cultura-BID,[55] e a realização das três primeiras edições do Fórum Social Mundial, em 2001, 2002 e 2003.[56] Entre as principais obras públicas dos últimos anos pode-se citar a construção de vilas populares para instalação de favelados, a duplicação ou ampliação de diversas avenidas importantes, a instalação de vários corredores de ônibus, a extensão do serviço de água para a totalidade dos domicílios da cidade, a criação da 3ª Perimetral e a construção do viaduto da avenida Carlos Gomes e do Anfiteatro Pôr-do-Sol à beira do Guaíba. Atualmente Porto Alegre é a maior região metropolitana do sul do país, e a quarta mais populosa do Brasil, com 3 959 807 habitantes, e a terceira mais rica,[4] mas enfrenta também muitos desafios ainda não resolvidos, em especial quanto à segurança, sem-tetos, transporte, emprego, equilíbrio das contas públicas, ocupação da orla do Guaíba e habitação.[57][58][59] Mas com uma infra-estrutura de 13 centros culturais, mais de 30 teatros, casas de show, cerca de 50 museus, memoriais e galerias de arte, a cidade possui uma agenda cultural intensa durante todos os meses do ano, destacando-se alguns dos maiores eventos culturais latino-americanos, como a Bienal de Artes Visuais do Mercosul, o festival de teatro Porto Alegre em Cena e a sua já tradicional Feira do Livro, a mais antiga do país e a maior do gênero a céu aberto, além de amiudados shows de artistas internacionais. Porto Alegre tem se destacado recentemente ainda em uma variedade de outras áreas: foi a única cidade fora dos Estados Unidos convidada a participar do Green Forum 2007, em Miami;[60] é a "Metrópole nº1" em qualidade de vida do Brasil; recebeu na Espanha o prêmio de Cidade Educadora; é referência nacional na coleta seletiva de lixo, com 100% de recolhimento, foi a primeira cidade brasileira a implantar os Conselhos Tutelares e o Estatuto da Criança e do Adolescente, e foi escolhida pela ONU, junto com outras três da América Latina, para integrar uma experiência piloto sobre Cooperação Intermunicipal, e é sede do Fórum Internacional Software Livre, dentre várias outras distinções.[1][61] Alguns de seus desportistas já conhecem uma fama internacional, como Daiane dos Santos e Ronaldinho, o mesmo acontecendo com alguns de seus artistas, como Roberto Szidon, Vera Chaves Barcellos, Luis Fernando Verissimo, Jorge Furtado, Renato Borghetti, Moacyr Scliar e Regina Silveira. Ocupa a oitava posição entre as cidades mais visitadas do Brasil por turistas estrangeiros,[62] e é uma cidade-chave na dinâmica do MERCOSUL.[1] Em 2009 residem na capital gaúcha cerca de 1,4 milhões de pessoas, sendo a 11ª cidade mais populosa do Brasil.[4][63]

[editar] Galeria

Referências

  1. a b c d A Cidade, Secretaria Municipal de Turismo
  2. a b c d e f g h i j k l m n o Costa, Eimar Bones da (ed). História Ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Já Editores, 1998
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q Macedo, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: Origem e Crescimento. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1999
  4. a b c IBGE. População residente, em 1º de abril de 2007
  5. a b Ludwig, Fernando. Em busca de outras democracias: a democracia participativa de Porto Alegre. Revista Autor, Mai-2009
  6. a b c Baptista, Maria Teresa Paes Barreto. José Lutzenberger no Rio Grande do Sul: Arquitetura, Ensino, Pintura (1920-1951). Porto Alegre: PUC-RS, 2007
  7. Zanini, Maria Catarina Chitolina. Um olhar antropológico sobre fatos e memórias da imigração italiana. Mana, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, out. 2007
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  11. a b c d e Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: EdiUFRGS, 2006
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  13. WEIMER, Günter. Theo Wiederspahn, Arquiteto. EDIPUCRS, Porto Alegre, 2009.
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